A ‘reencarnação’ configura a ideia central de diversos sistemas filosóficos e religiosos, segundo a qual uma porção do ‘ser’ é capaz de subsistir à morte do corpo. Chamada consciência, espírito ou alma, essa porção seria capaz de ligar-se sucessivamente a diversos corpos para a consecução de um fim específico, como o auto-aperfeiçoamento ou a anulação de um karma (Wikipedia[1]). Trata-se de um dos pontos fundamentais de religiões do Egito Antigo, bem como de religiões indianas como o hinduísmo, e também do budismo, do jainismo, do siquismo, do culto de tradição aos orixás, de várias tradições indígenas, do vodum, da cabala judaica, do druzismo, do rosacrucianismo, do espiritismo, da teosofia, da wicca, do eckankar, da cientologia, da filosofia pitagórica, da filosofia socrática-platônica etc. Entretanto, a reencarnação não representa crença consensual. Exemplificativamente, tanto a igreja católica como os protestantes, em geral, denunciam tal crença como herética. As testemunhas de jeová igualmente a rejeitam.

Ilustre leitor, não pretendo fazê-lo crer no espírito, nem mesmo na reencarnação. Também não intento fazê-lo um crente em Deus. Apenas vou explorar aqui uma ideia menos material de tudo o que estamos passando, seja no campo da política seja nas relações interpessoais, no trabalho, na escola, nas amizades e, principalmente, em nossas famílias.

Pois bem, no século XIX o francês Hippolyte Leon Denizard Rivail – ou Allan Kardec – e outros estudiosos dedicaram-se a um tema então em voga na Europa: os fenômenos das mesas giratórias, em que os sensitivos alegavam que espíritos se manifestavam no mundo dos vivos (Wikipedia[2]). Kardec escreveu uma série de livros[3] sobre as experiências mediúnicas que observou e, tendo como base a ideia da reencarnação, fundou a doutrina espírita, na qual a reencarnação é um ponto pacífico.

O espiritismo é grande divulgador da doutrina da reencarnação no Brasil e na maioria dos países ocidentais, defendendo que se trata de um processo obrigatório até o espírito não precisar mais reencarnar – e isso se dá quando ele se torna um espírito ‘puro’. A reencarnação é uma oportunidade para o espírito se aperfeiçoar, intelectualmente, através do trabalho e estudo, e moralmente, através do amor ao próximo, ou seja, por meio da caridade. Assim, ela é vista como uma bênção pelo espírito, pois é uma oportunidade de progresso. Além de trabalhar para o seu desenvolvimento, o espírito quando reencarna, também vêm expiar faltas que cometeu em encarnações anteriores.

Passagens do Novo Testamento, como Mateus 11:12-15, Mateus 16:13-17 e Mateus 17:10-13, Marcos 6:14-15, Lucas 9:7-9 e João 3:1-12 são citadas por espíritas e muitos outros espiritualistas como evidência de que Jesus teria, explicitamente, anunciado a reencarnação. Cito aqui apenas a última passagem (João 3:1-12), onde Jesus, conversando com um fariseu chamado Nicodemos, rabino proeminente dentre os judeus, disse-lhe: “em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Então, perguntou-lhe Nicodemos: “como pode um homem nascer, sendo velho? pode, porventura, entrar novamente no ventre de sua mãe e nascer?”. E respondeu Jesus: “em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do Espírito, é espírito. Não te maravilhes de eu te dizer: é-vos necessário nascer de novo.

Sucede que a questão não se circunscreve às religiões. O astrônomo e astrobiólogo Carl Sagan, que era agnóstico, em seu penúltimo livro, escreveu: “no momento em que escrevo, há três reivindicações no campo (paranormal) que, na minha opinião, merecem um estudo sério”, o terceiro sendo “que crianças pequenas às vezes relatam detalhes de uma vida anterior que, após a verificação, se mostram precisos e que elas não poderiam ter esse conhecimento de nenhum outro modo que não pela reencarnação.

Neste ponto em específico, recomendo ao leitor que esteja interessado 02 episódios do documentário “Vida Após a Morte” do Netflix[4] – são eles: “Reencarnação” (que traz justamente relatos de crianças que se recordavam perfeitamente de suas vidas anteriores), e também “Relatos dos Ressuscitados” (que trata de experiências de quase morte, com histórias muito fidedignas). Há ainda no Netflix um documentário biográfico do famoso cineasta Tom Shadyac (“I Am”[5]), no qual ele conversa com filósofos e líderes espirituais sobre as aflições do mundo e como transformá-lo em um lugar melhor. Lembrando que Tom Shadyac abdicou da vida luxuosa e midiática que levava, depois de um acidente grave que sofreu, tendo refletido e revalorado seu apego à matéria neste mundo.

Escrevo sobre isso e indico leituras e documentários porque sei que diversas pessoas, como eu, no curso desta severa pandemia que vivemos, estiveram ou ainda estão passando por graves crises de ansiedade ou de medo, o que pode redundar em comportamentos revestidos de ódio e de rancor. Previna-se ou cuide de remediar isso, acaso tenha sido pego pelas agruras psíquico-espirituais da pandemia. E, com absoluta certeza, isso não se faz assistindo ao obituário da TV – repetido o dia todo, como um mantra – ou frequentando o Twitter, o Instagram, o Facebook ou o TikTok. Creiam-me!

Conforme o site da Federação Espírita Brasileira[6]: as aflições, comuns em um mundo de expiações e de provas, como o planeta Terra, onde ainda há o império do mal, chegarão “num ranger de dentes do tempestuoso inverno a assolar incautos, desprevenidos e imprevidentes quanto ao futuro espiritual. Virão também da intimidade dos seres que não se permitirão mais ficar acomodados em zona de conforto, quando o Evangelho Redivivo nos convoca ao testemunho pessoal e intransferível do autoenfrentamento para as diligências renovadoras impostergáveis, considerando que os tempos já chegaram, e que não nos cabe procrastinar mais nem um segundo a resolução no rumo do bem e do amor divinos” (Kardec). A escolha é personalíssima e urgente, portanto.

Dá a impressão de que os maus prosperam, de que a irresponsabilidade cresce, de que a imoralidade domina, de que o instituto da família desmorona, de que a educação resta abatida, de que o materialismo vence, de que uma crise sem precedentes na história prenuncia um caos jamais visto no mundo inteiro, com todos os seus ‘ais’… Entrementes, “não nos permitamos agoniar, cedendo a aparentes forças irresistíveis de influências malévolas a nos desviar do caminho a ser seguido em direção à conquista paulatina da felicidade, por esforço próprio e proporcional à nossa capacidade, sem exageros ou exigências descabidas, mas compreendendo que o minuto precioso de cada dia não deve ser desperdiçado por invigilância e ociosidade” (Chico Xavier).

Vivemos os momentos decisivos da renovação em espírito e verdade, da transformação moral, da renovação íntima, da escolha dos valores espirituais, quando Jesus nos chama para o serviço da redenção de nós mesmos pelo auxílio aos irmãos em maiores necessidades que as nossas. Atravessamos o período de despedida gradativa do orbe de expiações e provas, em que somos convocados a atuar como trabalhadores da última hora e, simultaneamente, vislumbramos o limiar do mundo de regeneração, para o qual somos convidados como candidatos a servidores da primeira hora.

Temos que focar, assim, naquilo que é possível fazer, atuar como formigas, que mesmo carregando grãos são capazes de mover montanhas. Não fique encalacrado, portanto, no sentimento baixo daqueles que estão em cargos públicos, lavando suas mãos ou atuando com vileza, em proveito próprio. Temos que nos fixar naquilo que é possível fazer!

Ainda no site da Federação Espírita Brasileira, estão disponíveis matérias publicadas em “Reformador” (de 2010), que já explicavam “a transição para a Nova Era[7], do seguinte modo: “Ao mesmo tempo que os seres vivos progridem moralmente, os mundos que eles habitam progridem materialmente” (…). “A Terra esteve material e moralmente num estado inferior ao em que hoje se acha, e atingirá, sob esse duplo aspecto, um grau mais elevado. Ela chegou a um dos seus períodos de transformação, em que, de mundo expiatório, tornar-se-á mundo regenerador. Os homens, então, serão felizes na Terra, porque nela reinará a lei de Deus” (…) “A Humanidade tem realizado incontestáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Resta-lhes, ainda, um imenso progresso a realizar: fazerem que reinem entre si a caridade, a fraternidade e a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral”.

Caro leitor, a época atual é de transição. Elementos de duas ‘gerações’ se misturam na face da Terra – colocados no ponto intermediário, assistimos à partida de uma e à chegada da outra, já se assinalando cada uma, no mundo, pelas características que lhes são peculiares. As duas gerações que se sucedem têm ideias e pontos de vista opostos. Pela natureza das disposições morais, e, sobretudo, das disposições intuitivas e inatas, torna-se fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo (independentemente da idade que tenha na Terra). Cabendo-lhe fundar a era do progresso moral, a ‘nova geração’ se distingue por inteligência e razão geralmente precoces, aliadas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior. Não se comporá de espíritos eminentemente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as ideias progressistas e estejam aptos a secundar o movimento de regeneração. Esses esclarecimentos poderão levar alguma inquietação às pessoas sobre o destino de milhões de espíritos arrebatados nesta pandemia, mas Jesus, como nosso Mestre e Guia, deixou claro que ninguém ficará desamparado, como explicita na parábola da “Ovelha Perdida” (Lucas, 15:1-7).

A transição para uma Nova Era está inserida, assim, num Planejamento Divino. Ainda verteremos muito pranto, ouviremos muitas profecias alarmantes, mas a Terra sairá desse processo de transformação mais feliz, mais depurada, com seus filhos ditosos rumando para um mundo superior na escala evolutiva. Estes dias assinalam algo muito especial, o evento da mudança do mundo de provas e expiações para o mundo de regeneração.

Então, a grande noite que se abate sobre a Terra lentamente dará lugar ao amanhecer de bênçãos. Depois das trevas surgirá uma nova aurora. Luzes consoladoras envolverão todo o orbe regenerado no batismo do sofrimento – o homem espiritual estará unido, de modo indissociável, ao homem físico para a sua marcha gloriosa no ilimitado, ligando-se no abraço acolhedor do Cristianismo restaurado.

Posto isso, não perca mais tempo, ilustre leitor. Vá e reconcilia-te com seu próximo! Perdoa tudo aquilo de mal que te fizeram e pede perdão por seus erros, que são muitos. Utiliza seu tempo com sabedoria. Aproveita para aprender e internalizar valores, lapidar sentimentos. O universo é composto de vibrações e a faixa vibratória da Terra está se elevando. Portanto, se pretendes ficar por aqui, evolua. Não há espaço para que alguém retorne, na próxima encarnação, se insistir no caminho do mal. Não há aflição que não se acabe. Perdoa aqueles que insistem no erro, eles não sabem o que fazem. Que assim seja!

Referências:

[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Reencarna%C3%A7%C3%A3o

[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Reencarna%C3%A7%C3%A3o

[3] https://www.febnet.org.br/blog/geral/divulgacao/downloads-divulgacao/obras-basicas/

[4] https://www.netflix.com/br/title/80998853

[5] https://www.netflix.com/br/title/70160425

[6] https://www.febnet.org.br/portal/2020/03/23/o-que-e-esta-acontecendo-no-mundo/

[7] https://www.febnet.org.br/ba/file/CFN/Transi%E7%E3o%20Nova%20Era.pdf

FOTO: https://www.google.com/search?q=perd%C3%A3o&tbm=isch&ved=2ahUKEwjOi8zRuaPvAhUENLkGHa_1AvoQ2-cCegQIABAA&oq=perd%C3%A3o&gs_lcp=CgNpbWcQAzIHCAAQsQMQQzICCAAyAggAMgIIADICCAAyAggAMgIIADICCAAyAggAMgIIADoECAAQQzoFCAAQsQNQ6vABWPX-AWC7jAJoAHAAeACAAdIBiAG2CJIBBTAuNS4xmAEAoAEBqgELZ3dzLXdpei1pbWfAAQE&sclient=img&ei=DIpHYM7VFYTo5OUPr-uL0A8&bih=657&biw=1366&rlz=1C1GCEA_enBR918BR918#imgrc=4R-9nTnkFRJxdM

Ricardo Dantas

Ricardo Dantas

Advogado