Amigo leitor, queria eu ser o portador de boas notícias. Mas, está difícil… Conforme matéria da CNN Internacional[1], datada de 26/04/0222, o Deutsche Bank alerta para a grande recessão, que está se aproximando – e será global. Segundo a análise veiculada, enquanto a inflação está atingindo patamares históricos mundo afora (e levará um longo tempo até que retorne a níveis aceitáveis), os bancos centrais dos países aumentarão as taxas de juros tão rápida e intensamente que isso vai estagnar a economia, fenômeno que inclui até mesmo o FED e os Estados Unidos.

A pandemia desorganizou a economia mundial, gerando uma crise de produção (resultado de diversos lockdowns e também queda na demanda), seguida por uma retomada onde a demanda passou a ser muito maior que a capacidade de entrega (seja por problemas de produção, de logística, ou de ambos), elevando os preços de uma ampla gama de produtos no planeta. Os preços de commodities (como trigo e milho), eletroeletrônicos (como semicondutores) e outros bens de consumo já estavam nas alturas devido à questões climáticas e à pandemia. Também já estava elevadíssimo o preço do barril de petróleo e do gás. Então, o estouro da guerra da Rússia contra a Ucrânia fez degringolar ainda mais a caótica economia global, elevando a inflação justamente onde ela mais pesa nos lares – alimentos, e onde ela mais contamina o restante dos produtos comercializados – energia/combustíveis. É um moto-contínuo perverso, infelizmente.

De acordo com outra matéria da CNN Internacional[2], esse cenário vem gerando uma onda de instabilidade política, levando pessoas que já estavam frustradas com seus governos a chegarem ao limite, o que tem implicado em massivos protestos em alguns países (do Paquistão ao Peru), além de ter alavancado diversos políticos populistas em várias partes do globo (como Marine Le Pen na França). Outra matéria da CNN Internacional[3] complementa com um dado relevante, que está passando relativamente despercebido dos noticiários globais ante à guerra na Ucrânia: os massivos lockdowns que vêm sendo impostos pelo governo chinês em virtude da COVID. Há 180 milhões[4] de pessoas confinadas na China hoje, em 27 grandes cidades, incluindo Beijing e Shanghai – tais cidades vêm experimentando disfunção e caos, com falta do básico para os confinados, como comida e remédios; o povo está entrando em confronto com os agentes de saúde e os policiais nas ruas; há relatos de pessoas gritando de desespero nas janelas de seus apartamentos, bem como notícias de mortes e suicídios (há casos de corpos que ficaram por dias nas casas e apartamentos até que fossem destinados para um enterro apropriado).

Toda essa magnitude de fatores, somados, levaram ao maior choque de preços dos últimos 50 anos, segundo o Banco Mundial. Na matéria trazida pela BBC Internacional[5] há exemplos de vários produtos cuja inflação levou a preços surreais. Mas, o foco do problema está mesmo no custo da energia (que subiu mais de 50%) e dos alimentos, como trigo, cevada, soja, óleos e carne. Essa hiperinflação bateu o patamar de: 11,3% no Brasil; 9,8% na Espanha; 9,7% na França; 8,5% nos Estados Unidos; 7,4% no México; 7,3% na Alemanha e 7% no Reino Unido. Para se ter uma ideia, o índice NASDAQ caiu 4,2% na última sexta-feira (maior tombo em 14 anos, desde a crise global vivida em 2008)[6], justamente pela preocupação com a recessão. O Goldman Sachs[7] está projetando uma grande chance de recessão nos próximos 2 anos na economia americana. Em países com o amargo histórico de conviver com disparadas nos preços e descontrole econômico, como o Brasil, as perspectivas são ainda mais preocupantes.

Com o dinheiro no bolso valendo menos, o brasileiro está cortando gastos. Seis em cada dez pessoas, por exemplo, já mudaram os hábitos de consumo, segundo um levantamento encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgado na quarta-feira 20[8]. O empobrecimento decorrente da inflação também se reflete na queda do salário e no aumento das dívidas das famílias. Em fevereiro, a renda média mensal dos trabalhadores estava em R$2.511,00 – 8,8% abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. Já o endividamento em março atingia 77,5% das famílias brasileiras, segundo a Confederação Brasileira dos Serviços (CNS) – um recorde em 12 anos. Desse total, 27% não conseguem pagar as contas, levando também a um nível de inadimplência recorde, justamente no momento de alta da taxa de juros. Nesse cenário, a curto e médio prazo, o futuro da economia do país começa a ser desenhado como difícil e pouco auspicioso. Assim, as eleições presidenciais que se avizinham tornam-se questão de vida ou morte, literalmente, ao menos para a parte mais pobre das pessoas.

Conforme explica Maílson da Nóbrega, em coluna veiculada na Revista Veja[9] em 24/04/2022, após os anos 1930 e até a década de 70 tudo indicava que seríamos um país rico. Éramos uma das cinco nações de maior crescimento. Tudo isso começou a se esfumaçar a partir da década de 80 e de forma inequívoca nos últimos dez anos. Dados divulgados semana passada pelo FMI, escancaram essa dura realidade, segundo analisou o economista Samuel Pessôa em sua coluna deste domingo 24/04, no jornal Folha de S. Paulo. Entre 2000 e 2007, o Brasil cresceu em média 3,6%, acima dos países ricos (que se expandiram 1,4%), mas isso começou a mudar para pior. Nos anos 2008-2019, esses resultados foram 1,6% e 2,6% respectivamente. Nas projeções para 2020-2027, poderemos crescer 1,4% ao ano, enquanto os países avançados se expandirão 1,6%. O Brasil está, pois, distanciando-se da renda per capita das nações desenvolvidas. Empobrece relativamente, o que limitará o avanço social e agravará a desigualdade na distribuição de renda e o nível de pobreza.

Maílson da Nobrega ainda acrescenta que seria preciso articular um pacto suprapartidário favorável à aprovação das reformas e à neutralização dos grupos que se antepõem a essas medidas. Trata-se dos que se nutrem do patrimonialismo, do protecionismo e dos privilégios, principalmente os que caracterizam a alta burocracia do setor público, em particular as do Judiciário e do Ministério Público. Para ele, eleições poderiam ser a oportunidade para o debate dessas ideias e da escolha de líderes com capacidade de mobilizar a sociedade em torno dos desafios, mas, até agora, infelizmente, a campanha presidencial tem sido um deserto de propostas. Ele não vislumbra, dentre os candidatos, alguém com as requeridas qualidades de liderança. Então ele conclui: tendemos, pois, a continuar na rota da mediocridade econômica.

Observe nossa vizinha Argentina, país liderado pelo presidente Alberto Fernández e sua vice, Cristina Kirchner, com políticas típicas da extrema esquerda e que está caminhando para uma hiperinflação que deve ultrapassar os 70% até o final de 2022, situação que atinge principalmente os mais humildes – lá, mais de 50% da população que já vive abaixo da linha da pobreza –, algo que vem sendo chamado de “venezuelização” dada a semelhança com o que ocorre há décadas na Venezuela, primeiro sob o comando de Hugo Chávez e, atualmente, presidida ditatorialmente pelo socialista Nicolás Maduro. Seguramente não queremos que algo desta natureza ocorra no Brasil. Então, é preciso ter em conta que Lula não é a solução, até porque o Partido dos Trabalhadores, por meio de sua sucessora Dilma Roussef, deixou um legado do mal na nossa economia, que caiu 3,55% em 2015 e 3,31% em 2016 – ou seja, muito mais que os 4,1% da queda do PIB em 2020, decorrente da pandemia de COVID-19[10].

A solução também não está na reeleição de Jair Bolsonaro, cujo governo abandonou totalmente a responsabilidade fiscal em troca de lotear cargos e verbas aos partidos do “Centrão”. Esse atual governo aprovou orçamento mantendo o fundo eleitoral de R$4,9 bilhões e R$1,7 bilhão para reajuste de servidores[11]. Além disso, destinará só em 2022 o valor de R$16,5 bilhões para as famigeradas emendas de relator (chamadas de “orçamento secreto”)[12]. Ademais, o governo aprovou a odiosa “PEC do Calote”, que vai simplesmente deixar a ver navios os credores da União que, juntos, representam R$43,56 bilhões em dívidas, inclusive os aposentados[13]

Enfim, a solução dos nossos problemas econômicos, que passa por diversas reformas estruturais (como a administrativa e a tributária), não está nem perto dos dois candidatos com mais intenções de votos hoje nos institutos de pesquisa. E há alternativas?? Claro que há!! Pesquise a respeito das propostas e ideias de Felipe d’Ávila[14], do Partido NOVO, por exemplo.

Hoje o futuro da humanidade está dependendo da sanidade mental do presidente russo, que está ameaçando o mundo, todo dia, com o armagedom nuclear[15] – mas, isso está fora do nosso alcance. Já o futuro do Brasil depende do próximo presidente da República (e mais ainda dos próximos Deputados Federais e Senadores) – e isso depende inteiramente de você, amigo leitor.

Referências:

[1] https://edition.cnn.com/2022/04/26/economy/inflation-recession-economy-deutsche-bank/index.html

[2] https://edition.cnn.com/2022/04/09/business/food-fuel-prices-political-instability/index.html

[3] https://edition.cnn.com/2022/04/17/economy/stocks-week-ahead/index.html

[4] https://edition.cnn.com/2022/04/28/china/china-covid-lockdown-explainer-intl-hnk/index.html

[5] https://www.bbc.com/news/business-61235528

[6] https://edition.cnn.com/2022/04/29/investing/dow-stock-market-today/index.html

[7] https://veja.abril.com.br/economia/alta-de-precos-surpreende-o-mundo-e-traz-risco-ainda-maior-para-o-brasil/

[8] https://veja.abril.com.br/economia/alta-de-precos-surpreende-o-mundo-e-traz-risco-ainda-maior-para-o-brasil/

[9] https://veja.abril.com.br/coluna/mailson-da-nobrega/brasil-se-distancia-do-objetivo-de-se-tornar-pais-rico/

[10] https://infograficos.gazetadopovo.com.br/economia/pib-do-brasil/

[11] https://g1.globo.com/politica/blog/valdo-cruz/post/2022/01/24/bolsonaro-mantem-fundo-eleitoral-de-r-49-bilhoes-e-r-17-bilhao-para-reajuste-de-servidores-no-orcamento.ghtml

[12] https://g1.globo.com/economia/de-olho-no-orcamento/noticia/2022/02/18/puxado-por-orcamento-secreto-valor-de-emendas-parlamentares-triplicou-no-governo-bolsonaro.ghtml

[13] https://www.istoedinheiro.com.br/saiba-o-que-muda-em-2022-com-a-chamada-pec-do-calote/

[14] https://oglobo.globo.com/politica/com-agenda-liberal-cientista-politico-felipe-davila-lancado-pre-candidato-do-novo-presidencia-25460353

[15] https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2022/04/26/chanceler-russo-cita-risco-real-de-guerra-mundial-qual-a-chance-de-ela-acontecer-entenda.ghtml

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Ricardo Dantas

Ricardo Dantas

Advogado