Segundo o pensador e filósofo chinês Confúcio, nascido entre 552 a.C. e 489 a.C., um bom governante deveria primeiramente ser um bom filho, em seguida, ser um bom irmão, depois, ser um bom vizinho. Só assim tornar-se-ia um bom cidadão e, por decorrência, poderia ser um bom governante. Para ele, somente quem governa bem a si mesmo pode aspirar a governar os outros, afinal, tal mister seria a arte de conduzir e elevar os povos.

Na teoria de Confúcio, portanto, não existe diferença entre ética e política, já que ele sublinhava uma moralidade pessoal e governamental como faces da mesma moeda –procedimentos corretos nas relações sociais, a justiça e a sinceridade como valores dos indivíduos. Era um homem pragmático, afeto à resolução dos problemas cotidianos (que eram muitos na China em que viveu). Serviu ao Estado durante muitos anos, ocupando cargos importantes, até que o governante do reino se perdeu encalacrado nos encantos do Poder e suas benesses, quando decidiu sair. Peregrinou e fundou sua escola de filosofia.

Os ensinamentos de Confúcio nunca foram tão bem encaixados quanto na atualidade. Ao encararmos uma pandemia mundial com tantas mortes de amigos, parentes e personalidades de referência, ao termos que lidar com tantos confinamentos e restrições, além de uma taxa de desemprego recorde daí decorrente, bem como uma inflação galopante, derivada do despejo de socorro financeiro do Estado às pessoas e empresas, as coisas ficam caóticas e o ser humano tende a perder seu centro de equilíbrio. Mas, é justo aí, quando se oportuniza uma reavaliação interna de valores, que os indivíduos têm a oportunidade de abandonar aquilo que só o carrega ladeira abaixo, como paixões, apegos, ódios, remorsos, e também, porque não, deixar de lado políticos de estimação.

A vida é assim: mesmo em momentos de crise há oportunidades. E as pessoas as aproveitam ou não. Vai de cada um, claro! Mas, é claríssimo como o cavalo está selado.

Para ilustrar, principiarei do fim para o começo: Bolsonaro surfou uma onda em 2018 sem sequer precisar remar. Estava ali, encarnando uma suposta antítese ao governo do PT e acabou indo ao 2º turno justamente contra o PT. Então, elegeu-se com o voto antipetista. Ocorre que, a não ser pelas pautas ditas “conservadoras” (às vezes bizarras), vem fazendo exatamente o que faziam governos anteriores (que dizia em campanha que iria combater). Abraçou o “Centrão”, pagou verbas para manter a base aliada, e está envolvo num sem-número de casos de malversação do dinheiro público – as famosas “rachadinhas”. Seu governo estava até sendo razoável relativamente à economia, mas, daí veio a pandemia e fulminou qualquer ponto positivo. Ficou apenas o capitão cloroquina, com seus acessos de raiva, xingamentos a políticos, à imprensa e ao próprio povo que governa, chamados de “maricas”, dentre outros impropérios. Enfim a antítese dos ensinamentos de Confúcio.

Bolsonaro não se mostra uma boa pessoa. Lida muito mal com quem pensa diferente, tem acessos de fúria, claras tendências ditatoriais, além de se afigurar um inepto na condução do Poder Executivo. Não dá para tapar o sol com a peneira, caro leitor bolsonarista. E dizer que “são os filhos dele que atrapalham o governo” é o mesmo que afirmar que Bolsonaro foi um péssimo pai, concorda? Onde estão os valores morais do homem? Ele deve tê-los, é claro. Porém, soterra qualquer boa intenção com más ações, diuturnamente.

Voltando mais um pouco e pulando os governos Temer e Dilma, tivemos o governo Lula. Apesar de ser um sujeito muito mais afeito aos pobres, alguém que demonstra ter um coração que nutre mais empatia, Lula se veste conforme o baile. Faz de seu carisma (uma dádiva) uma praga populista, vocalizando mágicas – como a última, em que assevera que resolveria o problema da pandemia “começando com a impressão de 300 bilhões em moeda nova”. Veja, você pode ter um marido ou esposa amorosos, mas, se todo mês ele ou ela estoura o cartão de crédito, não haverá casamento que sobreviva. Um bom capitão é aquele que impede o barco de afundar e sabe para onde vai, não aquele que é boa pessoa.

Ademais, Lula tem muitos esqueletos no armário. Como pude abordar em minha última coluna, foi nos governos dele que nasceram o “mensalão” e o “petrolão”. É claro que as últimas decisões do STF retrocederam seus processos criminais à estaca zero, mas, politicamente, pelo menos, falta muito a explicar. Mesmo para você, leitor petista, que segue acendendo velas no altar do santíssimo Lula – ele mesmo já disse que “não existe viva alma mais honesta” do que ele – seria prudente reconhecer que os maiores esquemas de corrupção já noticiados no Brasil ocorreram na gestão Lula. Significa que ao menos ele foi inepto em combatê-los. E isso nada mais é que má gestão, segundo Confúcio.

Desta feita, no pleito de 2022 você até pode escolher candidatos que irão te enganar, mas, quando se trata de analisar aqueles que já estiveram à frente do Governo Federal, é preciso avaliar suas ações – as boas, mas, também, as más! Não cabe análise seletiva. Sugiro que escolha um candidato que não seja nem Bolsonaro e nem Lula. Eu já fui enganado por ambos. Mas, aqueles que me enganam sabem que só o fazem uma vez na vida. Não sou melhor que eles e não os odeio. Apenas acho que já deram o que tinham que dar e ponto.

A gente até pode ser enganado (com maior ou menor grau de facilidade, conforme o golpista), mas, constatado o engano, convém revermos nossa postura. Não é doloroso deixar para trás coisas que nada agregam, que puxam para baixo, ou mesmo nos prejudicam. Pode até ser difícil, em alguns casos, mas, é libertador. O que não dá é para ficar alimentando expectativas de que o enganador vá mudar. Isso não depende de você, mas, dele. Ademais, colocá-lo num altar não o transformará num santo… É a realidade!

Que Confúcio possa iluminar sua escolha nas próximas eleições. Aliás, fica aqui um humilde conselho de minha parte: preocupe-se mais com o voto que você dará para o Legislativo do que para o Executivo. Por incrível que pareça, aquele é mais importante.

Referências:

FOTO: https://www.google.com/search?q=confucio&rlz=1C1GCEA_enBR918BR918&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwixm-DQ7-zwAhV8D7kGHbMND_0Q_AUoAXoECAEQAw&biw=1366&bih=600#imgrc=aoEEj8eSPCWUuM

Ricardo Dantas

Ricardo Dantas

Advogado