A civilização, contada a partir do homo sapiens, possui cerca de 200 mil anos. Ou talvez 300 mil, como já noticiou a Revista Nature[1], em publicação de junho de 2017. Desde então, nossa evolução tem sido fantástica, mormente após o advento da escrita, que propiciou uma ascensão em progressão geométrica, dada a maior difusão do saber.

Houve sim eventos terríveis, que retardaram e, quiçá, fizeram involuir o progresso humano, tais como pragas e guerras de alcances continentais e até globais. Catástrofes como a destruição da Biblioteca de Alexandria, que faziam sumir do mapa, num instante, estudos e teses muito relevantes à nossa espécie que, depois, precisaram ser recompostos quase que do zero. Exemplo: há resquícios de que Aristarco de Samos havia escrito, ainda no século III a.C., que a Terra orbitava o Sol, assim como o faziam outros planetas. Perdidos esses documentos no referido incêndio, somente no século XVI d.C. é que seríamos reapresentados ao heliocentrismo, por Nicolau Copérnico.

Percebam que, mesmo nos dias de hoje, em pleno século XXI d.C., há ainda aqueles que digam que a Terra é “plana” (e não é pouca gente, acredite!), mesmo que se tenha cálculos matemáticos minudentes e inclusive fotos em HD disponíveis a todos na internet, a um singelo clique. Esse saber, ademais, hoje encontra-se muito mais seguro, em um sem-número de data centers que compõem nosso moderno armazenamento em nuvem das informações. Então, a tendência é perdermos menos de nosso saber daqui em diante, mormente com a inteligência artificial nos auxiliando a minerar esses dados.

Claro, sempre há espaço para uma hecatombe global. Mas, mesmo nessa hipótese, nós humanos nos recomporemos rapidamente, perdendo apenas alguns anos ou décadas. A hipótese de extinção existe, claro, mas está mais para enredo de filme hollywoodiano.

Pois bem, vivemos assim, na era da informação. Não é preciso ser um gênio para se dar conta de bastante coisa. Pesquisando na internet encontramos praticamente tudo. Não é diferente para escrever uma coluna como esta: há sempre algo a pesquisar ou confirmar. E, dentro desta realidade, pois, estamos fadados a evoluir ainda mais como civilização.

Sucede que, assim como abundam as informações abunda igualmente a desinformação. Então, as pessoas precisam ter um mínimo de tato, de conhecimento, e também de ceticismo, de forma a selecionar os locais onde vão buscar elementos de esclarecimento. Veículos como Facebook, Instagram, Twitter e WhatsApp facilitam, sem dúvida, a difusão das informações. Mas, são um prato cheio nas mãos daqueles que pretendem desinformar.

E o grande problema, para o qual gostaria de chamar sua atenção, não são as grossas mentiras, daquelas que se descobrem a olho nu em notícias que chegam cotidianamente pelos nossos smartphones. Mas, sim, aquelas meias-verdades, que inundam o noticiário político a que assistimos pela televisão, ou acessamos pela web, nos principais veículos de informação do país (e também do mundo). Aí reside o grande perigo da atualidade!

Quando digo “meias-verdades” quero me referir ao seguinte fenômeno: o sujeito pega uma verdade, depois se serve de outra, faz um remendo entre elas e, voilà, cria uma terceira “verdade” que, entretanto, não passa de uma bela mentira. Esse tipo de engodo virou moda na mídia, tenha você clareza quanto a isso – especialmente a brasileira.

Isso ocorre, não raras vezes, porque o comunicador não está vinculado a tentar transmitir uma verdade, mas, apenas seu ponto de vista, às vezes até involuntariamente. Perceba: todos nós nascemos, crescemos e nos tornamos pessoas inculcadas de valores, num campo de subjetividade quase infinito, que conta com as mais diversas variáveis. Então, quando buscamos explicações raciocinadas sobre determinadas verdades, o que é inato do ser humano, pode ser que, num juízo subjetivamente equivocado, tomemos uma verdade como decorrente de outra, por um grande e involuntário engano.

Entretanto, para além dos casos impensados, mormente no campo da política, onde há mais domínio do subjetivismo, muitas vezes essas meias-verdades são fabricadas pelo sujeito midiático, que quer fazer você acreditar que uma coisa decorre da outra, quando isso não passa de pura e simples má-fé. E a técnica utilizada para se fazer isso é justamente se servir de duas verdades, totalmente independentes entre si, mas que, para viabilizar a conclusão enganosa, foram juntadas como hipótese e consequente.

Não se trata puramente de fake news ou de pós-verdade. É algo mais maligno, que trapaceia com fatos verídicos, de modo a aumentar seu alcance e arrebatar os incautos.

Pensei em diversos exemplos para trazer aqui, mas, como eu escreverei sobre fatos da política (e outros), sempre em colunas dedicadas a um dado assunto, justamente para tentar combater essa praga da meia-verdade, creio que faço um bem ao apresentar apenas sua concepção abstrata, para que o leitor crie em si mesmo os antídotos necessários. Vos digo em verdade que é preciso estar muito atento a esses sofismas. Tal prática, mais expoente por volta do século V a.C., na Grécia antiga, voltou à carga com toda força nos veículos de mídia modernos, fato denunciado inclusive pela Wikipédia[2].

Conforme nos adverte a referida ‘enciclopédia livre’, os sofistas não se preocupam em absoluto com obter a solução certa, mas desejam unicamente conseguir que todos os ouvintes estejam de acordo com eles. Então, não seja você parte da cega audiência! Bote a cachola para funcionar amigo. Seja curioso, pesquise, não vá acreditando naquele que comunica apenas com base em suas credenciais. Há muita gente ruim (e mentira) por aí.

Referências:

[1] https://exame.abril.com.br/ciencia/homo-sapiens-e-100-mil-anos-mais-velho-do-que-se-pensava/

[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Sofisma

FOTO: https://www.google.com/search?q=cabe%C3%A7a+e+interroga%C3%A7%C3%A3o&tbm=isch&ved=2ahUKEwjuxZryy-PnAhXCG7kGHXLyD3UQ2-cCegQIABAA&oq=cabe%C3%A7a+e+interroga%C3%A7%C3%A3o&gs_l=img.3…1649.6297..6618…0.0..0.366.6037.2-19j2……0….1..gws-wiz-img…….0j0i131j0i67.27MUqJA2Dys&ei=K0xQXq6ELsK35OUP8uS_qAc&bih=608&biw=1366&rlz=1C1GCEA_enBR815BR815#imgrc=64rPJyhOFSMYwM

Ricardo Dantas

Ricardo Dantas

Advogado