A pandemia mudou muitas coisas. Muitas! Ao menos pra mim… Poucas vezes estive tão ativo intelectualmente como agora. Fui acometido por uma sede de cultura, saber e amor durante esse período tenebroso da história da humanidade. E, claro, isso inclui a política. Para Platão, o arquétipo de “justiça” se expressa no mundo por meio da “política” (ou deveria ser assim).

Desde os tempos da Faculdade eu não tinha tal força motriz. Talvez porque, quando ingressei no curso de Direito, minha vida tenha sido chacoalhada com intensidade parecida com aquela que, nos últimos 2 anos, a pandemia se encarregou de imprimir. É um senhor sentimento!

20 anos atrás, quando eu tinha quase 20 anos de idade, como manda a “regra”, eu acreditava no socialismo. Quer dizer, conforme dizia Belchior: amar e mudar as coisas me interessavam mais. E, até hoje, continuam me interessando mais. Porém, nessa segunda metade da minha vida, compreendi que mesmo os melhores sentimentos podem ser catastróficos, quando mal implementados. Nesse sentido, o socialismo/estatismo não levam e nunca levarão ao “Paraíso”.

Veja bem, caro leitor: o PSDB cumpriu seu papel com Fernando Henrique Cardozo – acabou com a praga da inflação, que onerava justamente a parcela mais pobre da população. Depois, queria ficar pra sempre no Poder… Então, foi muito importante eleger Lula em 2002. Este último também cumpriu seu papel – trouxe ideias progressistas e implementou uma distribuição de renda parruda, tirando milhões da pobreza extrema. Sucede que o PT, pelos mesmos motivos que o PSDB, não deveria ter se apegado ao Poder, a ponto de pretender monopolizá-lo.

Diante da polaridade havida por três décadas entre PT e PSDB, culminamos em 2018 com a eleição de Bolsonaro, que se mostrou catastrófica ao país. Precisamente por esse motivo, ele será defenestrado nas urnas no ano que vem, com toda certeza. Não precisa ser um guru pra saber disso. Ocorre que a democracia garante o direito ao voto (direto e universal), bem como a possibilidade de alternância no Poder. Porém, não garante que o governo eleito seja bom, competente e/ou honesto. Ademais, se não quisermos viver de impeachments, seria melhor adotarmos de uma vez o parlamentarismo – a mim parece que já passou da hora, inclusive.

Enfim, estamos a uma semana do início do ano eleitoral – 2022 vai chegar, nós vamos colocar roupa branca, pôr sementes de romã na carteira, fazer uma lista de mudanças pessoais positivas etc. Mas, a julgar pelas últimas pesquisas de intenções de voto, vamos usar as urnas como uma espécie de máquina do tempo, para voltar ao passado. Mais que isso, Lula está garantindo não só a volta ao passado como está atrás de Alckmin para ser seu vice. Seria como uma dobra do tempo, que parece garantir uma realidade paralela: a do governo do PSDB que não foi…

Há méritos do PSDB, assim como há méritos do PT. Alckmin tem suas virtudes, assim como Lula. Acontece que para este colunista é estranhíssima essa aliança Lula-Alckmin. É como nas histórias em que se descobre, ao final, que o mocinho era bandido. Ademais, ainda que todos os processos de Lula tenham sido anulados pelo STF, em razão de questões processuais, não dá para simplesmete apagar da memória tudo aquilo que se descobriu na Operação Lava Jato. Há quebras de sigilo bancário, telefônico, fiscal etc. Há testemunhas. Há confissões. Há delações. Há inclusive o pagamento de indenizações ao Erário Federal e à Petrobras. Houve corrupção das grossas, praticada com método. E isso tudo deveria ser contabilizado politicamente, claro.

Sucede que nosso país tem síndrome de vira-latas. As pessoas se esquecem facilmente daquilo que foi feito de errado. Aqui vale a máxima do “rouba, mas, faz”. A coisa é tão surreal que até mesmo o juiz do caso entrou no páreo. Isso seria um golpe contra Lula? Um golpe contra Bolsonaro? Um golpe contra o povo? Um autogolpe? Não se sabe… O fato é que estamos muito mal de futuro. Os três primeiros candidatos só nos garantem uma possibilidade: o passado.

Como na série “Dark” do Netflix, parece que em dado momento nós mexemos em alguma coisa e ficamos para sempre encalacrados nesse dilema: a cada 4 anos há um déjà vu e voltamos à estaca zero… Não importa se você concorda ou discorda: feliz Ano Velho!!

Referências:

FOTO: https://www.google.com/search?q=reveillon&tbm=isch&ved=2ahUKEwin3Nat9fT0AhVkOLkGHb6HB5IQ2-cCegQIABAA&oq=reveillon&gs_lcp=CgNpbWcQAzIKCAAQsQMQgwEQQzILCAAQgAQQsQMQgwEyCggAELEDEIMBEEMyCggAELEDEIMBEEMyBAgAEAMyBAgAEEMyBQgAEIAEMgUIABCABDIECAAQQzIFCAAQgAQ6CAgAEIAEELEDOggIABCxAxCDAToHCAAQsQMQQ1CrblijfWDDigFoAHAAeACAAYsBiAHkCJIBBDAuMTCYAQCgAQGqAQtnd3Mtd2l6LWltZ8ABAQ&sclient=img&ei=psvBYafxH-Tw5OUPvo-ekAk&bih=657&biw=1366&rlz=1C1GCEA_enBR918BR918#imgrc=fxVpn2CucroFnM

Ricardo Dantas

Ricardo Dantas

Advogado