Deveríamos Restabelecer Algumas Verdades

O mundo é um lugar complexo, principalmente porque nele habita e prospera, hoje, a maior praga que já existiu na história: e não é o coronavírus, mas, nós, os seres humanos!

Tenho convicção que o atual governo é ruim. O pessoal é inepto em muitas áreas, mesmo que uma parte (pequena) esteja funcionando. Nosso presidente definitivamente não está à altura do cargo e, que Deus nos ajude, será substituído no ano de 2022. Porém, temos que ter clareza de que não é só o Executivo que rema para o buraco… Legislativo e Judiciário dão suas grandes parcelas diárias de contribuição para o cenário caótico que temos hoje. Aliás, me arrisco a dizer que nosso Judiciário, hoje, é o maior desses males. Tanto que já escrevi sobre ele e sobre os demais poderes noutras de minhas colunas.

Ocorre que somos brasileiros. Então, não deveríamos fazer pouco caso de nosso país!! Muito menos perante os demais países. Quero dizer: você até pode reclamar de muita coisa, todos os dias – na sua casa, no seu trabalho, na escola, com os amigos etc. Porém, quando for falar com os ‘gringos’, trate de ter uma visão mais ampla antes de dizer que você mora no ‘pior canto do planeta’. Enfim, você pode odiar Bolsonaro e tal. Mas, isso não quer dizer que nós, os brasileiros, sejamos o pior povo da Terra. É uma 1ª verdade.

Passemos a outra realidade: advogo para diversas empresas aqui do país, dentre elas algumas do setor de frigoríficos. Para que uma cabeça de gado bovino seja abatida no Brasil e sua carne comercializada há um verdadeiro calvário a ser superado. Desde a vacinação do gado, à forma de seu manejo, alimentação e transporte, o abate sem que o animal seja submetido a sofrimento, a inspeção meticulosa e diuturna de toda a linha de separação e embalagem das carnes, bem como seu posterior transporte e armazenamento (e temperaturas), conforme a carne, até que ela chegue até você, leitor/consumidor, e isso dentro do prazo de validade para consumo. Se a ideia for exportar essa carne então, a burocracia quase triplica. Você não tem ideia da quantidade de certificações que a carne precisa para ser vendida no mercado internacional, creia-me! Claro: há falhas e algumas corrupções pontuais no sistema de inspeção, mas, ele garante sim a qualidade da carne.

Sucede que na China, país que hoje representa a 2ª maior economia mundial e que é o mais populoso do mundo (com 1,44 bilhão de habitantes), é possível ir até um mercado local, dito ‘molhado’ ou ‘úmido’[1], e comprar um casal de morcegos vivos, que você pode levar para casa, abater, preparar e cozinhar. Então, é óbvio que algo assim daria numa pandemia mundial!! E não digo que seja algo proposital, mas, sem dúvida, no campo das probabilidades, trata-se de um evento quase certo. O mundo todo sabe disso e não age para exigir melhoras nesse quesito por parte do governo Chinês. E sim, eu sei que eles têm muitas bocas para alimentar, mas, regras sanitárias são uma convenção global. Não se pode perpetuar essa situação, em pleno século 21, porque o regime comunista de Mao Tse Tung matou milhões e milhões de pessoas de fome entre Entre 1958 e 1962. O povo produzia grãos nas comunas, mas, não podia comê-los, tinha que entregá-los ao Estado. Até mesmo cozinhar dentro de casa era proibido. Então, recorreram a ratos, morcegos e tudo o mais que havia disponível. Isso é parte da magia socialista – e uma 2ª verdade.

Não é só isso, a China não observa regras internacionais do trabalho (sim, as pessoas morrem de trabalhar por lá!!), além de ter depositado metas dificílimas de fiscalizar no Acordo de Paris[2]. Quer dizer, decidiu ser signatária, mas, não se sabe muito bem como isso vai auxiliar na redução de poluição global. O mesmo se diga com relação aos Estados Unidos: nunca tinha assinado acordo climático algum – então, Obama firmou a Acordo de Paris, depois Trump retirou seu país do pacto – ou seja, somente agora, em Janeiro de 2021 é que os Estados Unidos vão, pela primeira vez na história, começar a implementar alguma redução significativa de gases poluentes na atmosfera. Lembrando que os principais emissores de CO2 na atmosfera são China, União Europeia, Índia e Estados Unidos, que formam 55% das emissões na última década. O Brasil ocupa a 6ª posição no ranking de países com mais emissão de gases de efeito estufa, com 3,2% das emissões líquidas globais em 2019[3] – vem logo após os já indicados anteriormente e a Rússia. Então, apesar de termos um governo que não zela pelo meio ambiente, estamos longe de ser um pária global no que concerne à poluição por CO2. Trata-se de uma 3ª verdade.

Sucede que os Estados Unidos e a União Europeia, visando produzir mais com o menor custo, na versão mais animalesca do capitalismo, levaram suas fábricas para China e Índia, justamente para se valer da mão-de-obra barata, decorrente da quantidade de pessoas que ali habitam e dos praticamente inexistentes direitos trabalhistas. E é por isso que quase todos os insumos para o combate à Covid-19 hoje vêm daqueles países, de máscaras a respiradores, de luvas a vacinas… Obviamente que eles já desenvolveram tecnologia própria, mas, a gênese dessa dependência mundial daqueles mercados decorre do fato de a OIT e dos organismos ambientais (sim as fábricas por lá poluem muito!!) terem fechado seus olhos para o que se passava naqueles países. Fica aqui a 4ª verdade.

Inclusive, convém se atentar ao fato de que a Índia, apesar de representar a 7ª maior economia do mundo em Produto Interno Bruto nominal, possui severas dificuldades de monitorar a evolução da Covid-19 em seu território, mormente porque boa parte dos seus 1,38 bilhão de habitantes vive na extrema pobreza. E é assim que, mesmo produzindo 60%[4] de todas as vacinas contra o coronavírus no mundo, a Índia provavelmente é o país mais afetado pela pandemia no globo[5]/[6], já que estima-se que o número real de mortos por lá já passe de 1 milhão de pessoas[7], com cerca de 13 mil óbitos por dia. Então, muito provavelmente, a Índia, que tem a 2ª maior população do planeta, está hoje no topo do ranking de mortes totais, mesmo que a contabilização oficial esteja muito aquém disso (ocupa a 4ª posição, com um total de 201.187 mortos[8]). Isso para não falar da China, que claramente esconde o estrago da pandemia em seu território, já que apenas uma deslavada mentira explica a 56ª posição do país no ranking de óbitos, com apenas 4.845 mortes…

Enfim, dos 05 países mais populosos do planeta, apenas Estados Unidos e Brasil têm números um tanto confiáveis e, portanto, lideram a lista da hecatombe da pandemia (em números absolutos). No que concerne às mortes por habitantes, mais fidedigna, o Brasil ocupa a 10ª posição, e os Estados Unidos a 13ª[9]. Mas, somente a sistemática falha na comunicação explica a Índia em 80º lugar, bem como somente a mentira oficial embasa a Rússia na 48ª posição e a China em 143ª. E, te pergunto: os ‘gringos’ estão chiando? Estão dizendo que China e Rússia são um perigo para a humanidade? Que a Índia é um laboratório a céu aberto de novas variantes do vírus? Não!! Então, por que você leitor, brasileiro, haveria de dizer que nós é que somos problema mundial? Aceite a 5ª verdade.

As coisas que escrevo nesta coluna podem até parecer desconexas, mas, muito ao contrário, estão totalmente interligadas. Há uma lógica por detrás de posições e ações de outros governos. E se dança a música num baile de máscaras. Sendo que, em verdade, as organizações internacionais não cumprem o papel que deveriam cumprir, o que apenas enfraquece as boas práticas e a democracia no planeta Terra – tanto que agências de inteligência americanas projetam um futuro sombrio para o mundo em 2040[10]. Perceba: os povos não precisam ter as mesmas culturas e valores. Porém, é necessário que os países ajam de acordo com um mínimo de decência, seguindo regras internacionais que visam equilibrar trabalho, economia, meio ambiente e saúde. Ao menos seria preciso que os países tivessem a hombridade de fazer primeiro o dever de casa para, só depois, cobrar os outros. Então, não caia no conto do vigário. O Brasil está mal governado hoje, mas, não somos um país e um povo que está causando tantos problemas como outros estão.

Se não houver um reforço nas estruturas dos organismos internacionais que regulam os temas mais caros à humanidade vamos nos desintegrar em nacionalismos e retaliações de parte a parte. As narrativas valerão mais que as verdades, como no Livro ‘1984’ de George Orwell. E aí, não haverá salvação! Será a graça do populismo em níveis apenas comparáveis ao do fascismo ou do nazismo, mas, cujas ferramentas tecnológicas de domínio seriam muito mais aprimoradas hodiernamente. Então, tenha a cabeça no lugar.

Lembrando que esse cenário populista é idêntico seja na ultradireita seja na ultraesquerda. De modo que não cabe ter populista de estimação. Abra a cabeça e saia de sua bolha. Aproveite que ainda há muitos dados disponíveis por aí para que você tenha acesso aos fatos, como eles são. Não se perca em versões da realidade. E tenha muito juízo quando comparecer às urnas em 2022. O mundo pode até não mudar, mas, o futuro do Brasil depende de você! Acreditemos que é possível ter um país melhor como a última verdade.