Nós, os seres humanos, somos muito resistentes. As provações foram muitas ao longo dos mais de 200 mil anos de história do homo sapiens, mas, seguimos firmes e fortes!
Na verdade, caro leitor, a vida é velha. Os dinossauros são talvez as criaturas extintas mais famosas, e eles tiveram sua origem há 250 milhões de anos. No entanto, a vida na Terra começou muito antes. Conforme matéria do site da BBC[1], em agosto de 2016 pesquisadores descobriram micróbios fossilizados há 3,7 bilhões de anos. A Terra não é muito mais velha do que isso, tendo sido formada há 4,5 bilhões de anos.
Pois bem, foi no ano de 1859 que houve um dos maiores avanços científicos da humanidade: a teoria da evolução, de Charles Darwin, que explicou como poderíamos ter surgido de um único antepassado em comum – no entanto, a teoria nada dizia sobre como o primeiro organismo surgiu. E, pesquisando sobre isso, o cientista Stanley Miller deu início ao mais famoso experimento já feito sobre a origem da vida, em 1952: ele conectou uma série de frascos de vidro pelos quais circulavam quatro compostos químicos que estariam presentes no começo da Terra: água fervendo, gás hidrogênio, amônia e metano. Nessa mistura, ele encontrou dois aminoácidos: glicina e alanina. Aminoácidos são descritos como os blocos fundamentais para se construir a vida.
Mais à frente, em 1968, o químico britânico Leslie Orgel sugeriu que a primeira forma de vida não tinha proteínas ou DNA. Em vez disso, essa forma de vida era composta quase que completamente por RNA. Ao sugerir que a vida começou com RNA, Orgel propôs que um aspecto crucial da vida – a sua habilidade de se reproduzir – aparecia antes de qualquer outro aspecto.
Nesse diapasão, como todos os seres vivos na Terra são feitos de células – cujo objetivo é manter no mesmo lugar todas as substâncias essenciais para a vida – a parede da célula é tão essencial que muitos pesquisadores argumentam que esta deve ter sido a primeira característica a ser formada. A teoria tem como seu principal defensor Pier Luigi Luisi, da Universidade Roma Tre, em Roma, na Itália. A teoria de Luisi é simples: como você poderia criar um metabolismo que funciona ou um RNA auto-replicante sem ter um recipiente para manter todas as moléculas juntas?
Postas as coisas desta forma, vamos à definição do que seja um “vírus”[2]: seres muito simples e pequenos (medem menos de 0,2 µm), formados basicamente por uma cápsula proteica envolvendo o material genético, que, dependendo do tipo de vírus, pode ser o DNA, RNA ou os dois juntos (citomegalovírus). A palavra “vírus” vem do Latim e significa ‘fluído venenoso’ ou ‘toxina’. Atualmente é utilizada para descrever os vírus biológicos, além de designar, metaforicamente, qualquer coisa que se reproduza de forma parasitária, como ideias. Aliás, o termo vírus de computador nasceu por analogia.
Quis descrever a progressão da vida, caro leitor, porque nós, humanos, hoje estamos no “topo” da cadeia alimentar. Ou melhor, estamos logo abaixo de Deus (para quem acredita), como senhores do mundo. Governamos o planeta Terra e nos auto-replicamos em ritmo alarmante: seremos 11,2 bilhões até o ano de 2100[3]. E utilizamos esse hospedeiro, a Terra, exatamente como um vírus, extraindo, devastando, poluindo etc.
Ocorre que a vida cobra, ou melhor, a Terra reage. Assim é que alguns vírus (além de bactérias e outros microorganismos) já causaram estragos tão grandes à humanidade quanto as mais terríveis guerras, terremotos e erupções de vulcões. Vejamos as grandes epidemias ao longo da história, segundo a Revista Super Interessante[4]: Peste Negra (ou Peste Bubônica): 50 milhões de mortos (Europa e Ásia) – 1333 a 1351 – que só foi combatida à medida que se melhorou a higiene e o saneamento das cidades, diminuindo a população de ratos urbanos (tratamento à base de antibióticos); Cólera: centenas de milhares de mortos – 1817 a 1824 – conhecida desde a Antiguidade, teve sua primeira epidemia global em 1817 (tratamento à base de antibióticos); Tuberculose: 1 bilhão de mortos – 1850 a 1950 – sinais da doença foram encontrados em esqueletos de 7.000 anos atrás. O combate foi acelerado em 1882, depois da identificação do bacilo de Koch, seu causador (tratamento à base de antibióticos); Varíola: 300 milhões de mortos – 1896 a 1980 – a doença atormentou a humanidade por mais de 3.000 anos e contaminou figurões como o faraó egípcio Ramsés II, a rainha Maria II da Inglaterra e o rei Luís XV da França (a vacina foi descoberta em 1796); Gripe Espanhola: 20 milhões de mortos – 1918 a 1919 – o vírus ‘Influenza’ é um dos maiores carrascos da humanidade, e sua mais grave epidemia foi batizada de ‘gripe espanhola’, embora tenha feito vítimas no mundo todo e, no Brasil, matou o presidente Rodrigues Alves (tratamento com vacinas antigripais, mas, como o vírus está em permanente mutação, o homem nunca está imune). Há ainda diversas outras pragas registradas, como: Tifo, Febre Amarela, Sarampo, Malária, Aids etc. E “o pulso ainda pulsa” (Titãs)…
Apenas num passado (muito) recente, conforme o Portal R7[5], tivemos: 1) O surto mundial de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) entre 2002 e 2003, que atingiu 8.098 pessoas na Ásia, Europa e nas Américas, sendo registradas 774 mortes. Um relatório da OMS divulgado em 2003, quando o surto foi considerado encerrado, citou uma taxa de mortalidade de 15%. 2) A Gripe A, causada pelo H1N1, que causou uma pandemia em 2009, quando foi identificada. No fim do surto, em 2010, a OMS estimou em 18.500 o número de mortes causadas pela doença. Entretanto, em estudo posterior, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) estimou que entre 151.700 e 575.400 pessoas morreram de H1N1 em todo o mundo. O Brasil teve 1.109 mortes por gripe em 2019, segundo o último relatório do Ministério da Saúde. O subtipo de vírus da gripe que mais matou foi justamente o H1N1, com 787 óbitos.
De se ver, portanto, que convivemos com a peste ao longo de nossa história. E agora, fomos apresentados ao Coronavírus. Pelo que constou alguém se alimentou de um morcego (ou cobra, ou pangolim) na China, em Dezembro/2019, e hoje o mundo todo está convivendo com uma pandemia. Os dados consolidados no site do Ministério da Saúde eram os seguintes em 17/03/2020[6]: Mundo – 167.511 casos confirmados, 6.606 óbitos e letalidade de 3,94%. Brasil – 8.819 casos suspeitos, 290 confirmados e 1 óbito.
Esses números são dinâmicos, e muito! Já li relatos de que as mortes poderão passar de meio milhão no mundo, a depender da forma de enfrentamento. Quer dizer, teremos que saber conduzir essa nova praga, para não sermos devastados por ela. Leia-se: para não perdermos entes queridos, principalmente os idosos e pessoas mais fragilizadas.
Sucede que, naquilo que tenho acompanhado, embora esta não seja a última peste a nos assolar, pois estaremos muito bem enquanto humanidade daqui a 3 ou 4 meses, fiquei bastante decepcionado com o sistema global de saúde, que atende pelo nome de OMS.
Caro leitor, a partir de agora, peço licença poética para escrever, afinal, sou jurista e não um profissional da área de biológicas. Mas, cá pra mim, a OMS veio a público no dia 11/03/2020 para declarar o óbvio: vivemos uma “pandemia” de Coronavírus. Ora, quem é que não sabia disso àquela altura? Nosso Ministro da Saúde fez coro a essa crítica[7].
Sucede que a declaração de pandemia não significou quase nada na prática. Não há um protocolo a ser seguido pelas nações… e isso é inimaginável (!!!), ao menos pra mim…
Ora, como pode a OMS deixar que cada país decida a forma de combate a um vírus que assola o globo como um todo? Claro que há a soberania nacional, mas, as diretrizes e protocolos deveriam ser únicos e válidos em todos os locais, observados os dados da progressão da contaminação e dos óbitos, p.ex. Hoje mesmo estamos vendo países impondo variadas quarentenas como Itália, Espanha e França, enquanto outros estão deixando a população livre para circular, casos de Reino Unido e Brasil. Há ainda os países que fecharam suas fronteiras e aqueles que ainda não o fizeram, caso do Brasil.
Assim, fico eu aqui pensando: e se a peste atual fosse muito mais letal? Estaríamos nós preparados? Difícil acreditar que estaríamos. Não com essa descoordenação global! E é justamente aí que nasce, cresce e ataca um outro vírus igualmente perigoso: a desinformação. Cada um acha que sabe mais sobre o Coronavírus que o outro. Assim, uns fazem quarentena, outros não. Uns visitam os parentes, outros não. Uns deixam as crianças brincarem na calçada, outros não. Há até xaropes milagrosos e superstições.
Entendo que a pandemia vá arrebatar muitas vidas humanas e que cada um de nós é insubstituível. Tenho pais e avós vivos, então acredito que devam ficar em isolamento o máximo que conseguirem (inclusive de mim). Mas, deveríamos instituir quarentenas e comportamentos mais severos e restritivos com base numa escala da OMS, em conjunto com o Ministério da Saúde de cada país. Quer dizer, inviabilizar as rotinas e economias das nações é algo igualmente sério e com consequências bastante severas, mormente aos mais pobres. São muitos os que precisam sair de casa todo dia para ter o que comer. Não adianta sermos apenas românticos e dizer: vamos ficar em casa… e aqueles que nem casa têm? E os idosos que moram sozinhos? Há ainda asilos, presídios etc.
Me parece que há uma série de medidas tomadas pelos Governos isoladamente. E então, os veículos de mídia, que até 10/03/2020 ficaram nos pedindo em todos os programas para “não entrar em pânico”, após decretada a pandemia, literalmente, entraram em pânico!!! Já vi mais de um jornalista chorar ao vivo… e há dezenas de convidados e jornalistas (que nem médicos são), para nos dar justamente a visão dos “especialistas”.
Em suma: não há como as pessoas não entrarem em pânico num cenário desses. Então, ficamos assistindo a essa contabilidade mórbida e diária de quantos estão infectados e quantos morreram. E assim cobramos atitudes mais duras dos Governos com base nos nossos achismos. Há muitas variáveis em jogo: vidas, famílias, nações, negócios, etc.
Nós já sofremos várias ondas de pragas, mas, parece não termos desenvolvido mecanismos eficazes para combatê-las. Sequer estamos testando as pessoas no Brasil, p.ex., por falta de kits suficientes. Não há como confiar nem nessa contabilidade que nos é apresentada todos os dias, afinal, só os doentes graves estão sendo testados agora. Então, sequer saberemos qual é a efetiva taxa de mortalidade, que tende a ser bem menor que 3,94%. Isso porque a quantidade de infectados tende a ser 5 (cinco) vezes maior que a oficial[8].
Enfim, de algum modo vamos sobreviver, seguramente! Nos resta orar e confiar. Mas, confiar nos dados da OMS? Do Governo? Dos Jornais? Do WhatsApp?
Referências:
[1] https://www.bbc.com/portuguese/vert-earth-38205665
[2] https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Seresvivos/Ciencias/biovirus.php
[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Popula%C3%A7%C3%A3o_mundial#cite_note-:1-2
[4] https://super.abril.com.br/saude/as-grandes-epidemias-ao-longo-da-historia/
[5] https://noticias.r7.com/saude/coronavirus-nao-ha-motivo-para-populacao-entrar-em-panico-11032020
[6] http://plataforma.saude.gov.br/novocoronavirus/
[7] https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2020/03/11/interna-brasil,833580/oms-demorou-diz-mandetta-sobre-decreto-de-pandemia-do-coronavirus.shtml
[8] https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/03/17/infectados-por-coronavirus-pode-ser-maior-que-numeros-oficiais-diz-estudo.htm
FOTO: https://super.abril.com.br/saude/as-grandes-epidemias-ao-longo-da-historia/
![Ricardo Dantas](http://ricardodantas.blog.br/wp-content/uploads/2020/02/Foto-Ricardo-Dantas-Por-Que-Escrevo.jpg)
Ricardo Dantas
Advogado
Ric, legal o texto! Gostei do apanhado geral do início sobre a vida e sobre os vírus!
Em relação às medidas de controle, concordo plenamente!!! Ainda falei isso ontem pra mamãe, aqui em Campinas está tudo normal Ric, tudo funcionando normalmente!!
Absurdo existir um órgão único de saúde no mundo e não centralizar medidas únicas, como vc bem disse!! Aqui no Brasil nem o próprio presidente que deveria ser exemplo, o faz!! Fora as praias e shoppings lotados.. as pessoas só irão entender quando começarem a de fato prenderem ou multar quem tá na rua!!
Rafa, é exatamente por isso que entendo que deveríamos ter um protocolo padrão, mesmo que mínimo, mas, global. Se um país está com a disseminação “A”, então precisa fazer “B”. Se chegar ao ponto “C”, então é hora de implementar “D”. Assim não só os Governos, mas, as pessoas, ficariam mais orientados e entrariam menos em pânico. Daria para mitigar a disseminação, talvez, com medidas menos duras que uma quarentena geral, p.ex. Mas, com tantos doutores jornalistas, com tantas fakenews nas redes etc., cada um faz o que acha ser o certo. Então, todos acabam fazendo algo errado… Daí vêm as quarentenas, multas e prisões. E a economia colapsa junto com o sistema de saúde. É um combo do mal… e, aqui no Brasil, estamos caminhando para isso, infelizmente. Agradeço seus elogios. Abração!!
Texto excelente, meu caro amigo! E você, certamente, está entre os poucos que conseguem fornecer e trabalhar uma quantidade considerável de informação e, ao mesmo tempo, manter o texto interessante.
Sobre a situação, está claro o despreparo do mundo para lidar com isso. É como você disse: imagina se fosse um vírus mais letal?
A realidade é que, quando não se planeja, acontece o famigerado voo de pato! Sabe? Aquele que é desajeitado, desesperado, que não vai muito longe e que se arrebenta no chão. Então, espero que fique a lição de planejar e ter seriedade com as coisas.
Não que não seja uma qualidade o nosso bom humor. Mas tem o tipo certo, aquele que faz a gente suportar coisas difíceis (como o governos, impostos, etc) e não um humor para maquiar a ignorância.
Abraço
Irmão, obrigado pelo elogio! Tenho tentado me expressar com a maior objetividade possível. Mas, é claro que não consigo deixar de imprimir alguma subjetividade na escrita das colunas. Quanto à essa pandemia, me parece que os países estão bastante descoordenados. Talvez porque a OMS não tenha chamado para si tal organização, de forma global. No momento, estou orando para que tenhamos a menor quantidade de óbitos possível. E para que nossa economia não seja estraçalhada por um longo período de quarentena. Talvez saiamos mais humanizados e solidários disso tudo. Mas, a julgar pelas redes sociais, a coisa está difícil… resta tentar pôr a cabeça no lugar e confiar que Deus tem um plano maior (e melhor) para a humanidade – e para o Brasil!! Abraço