Hoje termino um curso de filosofia na Nova Acrópole[1]. Foram 30 aulas durante 07 meses. Muitos artigos, estudos, podcasts e livros depois, abri a cabeça… Quer dizer, entendi o quão grandes sãos as coisas do Universo, do Sistema Solar, do planeta Terra e da história da humanidade. É como se o tempo tivesse passado a andar mais devagar, afinal, quando se olha por uma perspectiva mais elevada, os mesmos fatos ficam mais lentos, como quando nós observamos o trânsito do quinquagésimo andar de um prédio. Isso é revelador e desconcertante. Me sinto aturdido! Ouço um monte de coisas e, muitas vezes, fico intrigado: como pode essa pessoa (ou essas pessoas) estar(rem) preocupada(s) com questões tão pequenas? Tão banais?

Como já abordei noutra coluna, de acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, realizado em 2021, pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional[2] – do total de 211,7 milhões de brasileiros(as), 116,8 milhões convivem com algum grau de insegurança alimentar sendo que, destes, 43,4 milhões não têm alimentos em quantidade suficiente e, pelo menos, 19 milhões enfrentam a fome diária. Então, obviamente, para quem não tem sequer o que comer, pouquíssima coisa importa além da própria alimentação. Um ser humano nessa situação tem que ser a pessoa mais concreta e objetiva do mundo: ou busca alimento ou morre. É muito triste!

Porém, uma vez que o ser humano consegue atender suas necessidades básicas, quando tem alguma instrução educacional decente e, na medida em que não possua problemas relevantes de saúde, há uma chance para a abstração. Quer dizer, é possível um desprendimento das coisas mais comezinhas da vida e, quem sabe, isso implique em alguma elevação (ou revelação). Isso está longe de ser a realidade da maioria, mas, um dia, quando formos verdadeiramente humanos, há de ser. Teríamos que diminuir a colossal desigualdade social que existe no país (e no mundo), principalmente nos quesitos alimentação, educação e saúde. Isso, aliado à segurança pública que impeça valer a lei do mais forte (quando o Estado não é tirano, claro), levará o homo sapiens a patamares inimagináveis. Vai demorar? Depende da escala do tempo que se adote. Porém, essa é a marcha inexorável da história. Haverá muito sofrimento até lá, mas, vai chegar!

Yuval Noah Harari, professor israelense de História e autor do best-seller internacional “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”, ensina no livro que apesar de o homo sapiens ter surgido entre 300 e 200 mil anos atrás, até uns 70 mil anos no passado não éramos uma espécie especial em relação aos neandertais europeus e aos homo erectus asiáticos. Aquilo que nos distinguiu e fez com que superássemos nossos semelhantes à época foi a revolução cognitiva, que permitiu que nossa linguagem evoluísse a níveis espantosos, pavimentando que formássemos grupos maiores e mais cooperativos entre si. Os homo sapiens eram capazes de trabalhar em tarefas conjuntas inclusive com outros indivíduos que jamais conheceram previamente. Foi isso, caro leitor, que iniciou a nossa marcha da história e nos trouxe até aqui.

O referido escritor inclusive estabelece por aquele período o surgimento da religião, estratos sociais e hierarquia, como concebemos hoje. Essa revolução cognitiva, aliada a uma revolução agrícola, bem como uma revolução industrial e tecnológica, forjaram a atual humanidade. Nós chegamos a níveis inconcebíveis de desenvolvimento científico. Porém, isso é só o começo. Quando colonizarmos a Lua, Marte e alguns outros satélites de Júpiter e Saturno (numa viagem que já começou), teremos nos perpetuado no Universo. E veremos como a Terra é singular. O entendimento daí resultante, talvez aliado à descoberta de que não somos os únicos seres vivos no Universo (quiçá os únicos seres inteligentes), vai nos tornar uma espécie mais unida. Digamos que tudo isso ocorra em 1.000 anos. É muito pouco tempo na nossa escala evolutiva.

A questão é que a evolução humana não tem limites. E, claro, em algum ponto vamos nos tornar seres ‘sábios’. Essa sabedoria é que comporá a próxima revolução da espécie. E perceba: não estou aqui dizendo aumento do intelecto ou do conhecimento (ambos importantes, por óbvio). Me refiro ao atingimento da sabedoria, que é algo muito mais profundo. Do ponto de vista religioso, por exemplo, isso significaria, para o espiritismo, a evolução da Terra de mundo de “provas e expiações” (ou seja, um orbe marcado pela dor e sofrimento) para um mundo de “regeneração” (a primeira escala dos orbes felizes). Para Carl Sagan, noutro ponto de vista, mais científico-filosófico, esse ponto de sabedoria é aquele no qual deixamos a quarentena Universal para nos integrarmos numa miríade social existente no espaço profundo. Seria como passar de ano na escola. Ou, numa visão budista, elevar-se e compreender a vida e a criação.

Temos problemas muito concretos. A fome é um deles (certamente um dos maiores). Porém, temos que nos desprender do passado (aprendendo com ele) para encararmos esse futuro. Há soluções ainda não pensadas e coisas ainda não tentadas. Não resolveremos tudo de uma só vez, por óbvio. Sucede que para resolver grandes problemas temos que dividi-los em problemas menores. Este antigo ditado liga-se ao pensamento que eu trouxe no início desta coluna. Explico: quando dividimos o problema, nos tornamos maiores que ele. Então, conseguimos encará-lo e vencê-lo. Foi assim que um bando de homo sapiens conseguiu caçar mamutes, salvar a tribo dos leões ou mesmo se defender de intempéries climáticas. E vai ser assim, com o mesmo raciocínio ontológico, que vamos vencer os próximos desafios (presentes e futuros).

Estamos num ponto crucial da história, amigo leitor. Atingimos a tecnologia para deixar o planeta Terra, partirmos para o cosmos e nos tornarmos seres imortais, como nas escrituras e nos mitos. Ao passo que também atingimos um estágio onde há tecnologia suficiente para nos autodestruir. Como na gênese bíblica, comemos da árvore do conhecimento e, agora, temos que comer do fruto da sabedoria, de modo a sermos readmitidos no ‘paraíso celestial’. Acredito piamente que seguiremos pelo caminho iluminado, até porque o Universo tem conspirado a nosso favor, há milhões de anos. Não nos aniquilamos até hoje e não nos aniquilaremos. Então, o futuro seguramente será melhor que o presente, não há dúvidas! E, para aceitar essa sentença, é preciso ter em conta, como Albert Einstein, que o tempo é relativo. Para o renomado cientista, a diferença entre passado, presente e futuro é apenas uma persistente ilusão. Eis o resumo.

Dentro do meu otimismo com a humanidade, relativizado o tempo, tenho certeza que a marcha da história é ininterrupta. Então, pode ser que Bolsonaro seja reeleito, que Lula retorne ao Poder, mas, seguramente, ambos ficarão para trás. Não existe mal eterno. Seremos mais sábios, mais tolerantes, mais livres. Ao menos nos libertaremos de amarras populistas. Estamos vendo os últimos suspiros dessa espécie – como um animal nos estertores da morte ou um bicho acuado, há bastante barulho e ataques como defesa natural. Mas, isso vai ficar pelo caminho. Algo maior e melhor nos espera num futuro próximo, seja no Brasil, seja no mundo. O ser humano será universal. E sua sabedoria relegará os populistas aos livros de história, sejam eles atuais (do nosso tempo), sejam aqueles que por aqui já estiveram. A linguagem, como dito, nos tirou da idade da pedra. A imunização contra histórias da carochinha nos fará ir muito além!

Referências:

[1] https://www.acropole.org.br/

[2] http://www.fao.org/family-farming/detail/fr/c/1392789/

FOTO: https://www.google.com/search?q=leonardo+da+vinci+homo+universalis&tbm=isch&ved=2ahUKEwi88pqLn8jzAhX0BNQKHXZEAX8Q2-cCegQIABAA&oq=leonardo+da+vinci+homo+universalis&gs_lcp=CgNpbWcQAzIECAAQHjoGCAAQBxAeUPrqA1jc-ANgtIAEaABwAHgAgAGrAYgBkgiSAQMwLjmYAQCgAQGqAQtnd3Mtd2l6LWltZ8ABAQ&sclient=img&ei=vUNnYfyfMPSJ0Ab2iIX4Bw&bih=657&biw=1366&rlz=1C1GCEA_enBR918BR918#imgrc=m5JlPSUXOK7iFM

Ricardo Dantas

Ricardo Dantas

Advogado